quinta-feira, julho 07, 2005

Lugar-Comum

Um dos lugares mais comuns que existe é a incansável luta de cada um para não cair em clichês. E nada poderia ser mais clichê do que iniciar este texto fazendo um jogo de palavras como esse da frase anterior, já que a palavra clichê quer dizer “lugar-comum”. Mais clichê ainda é dar o significado que a palavra-chave do texto tem no dicionário logo de início. Falar em clichê é então o maior de todos os clichês possíveis. Por isso esse início completamente viciado, impregnado de mesmices. Pra desde logo assumir que, por mais que a gente tente, acaba, vez ou outra, caindo em lugares-comuns. E por que não?

Às vezes a originalidade está na própria falta de originalidade. Às vezes as palavras mais batidas, as frases mais feitas são justamente aquelas que precisamos, aquelas que se encaixam com perfeição. O comum deixa espaço para que nós mesmos busquemos a originalidade que pode haver por detrás de tantas trivialidades. Por que se furtar de dizer a alguém “estás longe dos meus olhos, mas perto de meu coração”, por exemplo, se essa pieguice é o que exprime com fidelidade o que estamos sentindo? Certamente o original disso será percebido pelo destinatário da frase. E, finalmente, por que temos que ser sempre originais? De onde vem essa nossa necessidade de surpreender? Provavelmente para nos destacarmos da multidão, para nos sentirmos únicos e insubstituíveis, pois apenas nós agimos de determinada forma, apenas nós temos determinada reação para esta ou aquela situação, apenas nós expressamos com determinadas palavras o que sentimos. Ainda assim, não escapamos de prosaísmos.

Por quê? Por que somos o nosso próprio lugar-comum. Por mais que façamos, somos sempre nós mesmos. Repetimos os mesmos erros. Nossas manias não são outra coisa senão nossos auto-clichês.Talvez ao fugirmos de clichês estejamos fugindo de nossa previsibilidade, tentando sempre algo novo para nos livrarmos da monotonia que cada um de nós é para si.Pois, por mais que surpreendamos os outros, é raro nos surpreendermos com nós mesmos.No mais das vezes, sempre antevemos, mesmo que inconscientemente, quais serão nossas atitudes perante os fatos que se apresentam no nosso dia a dia.

O preconceito que temos em relação a clichês é, na verdade, medo do corriqueiro, do banal, do simplório. Medo de ser igual, de fazer parte do todo a ponto de se ver diluído em cotidianidades e fulanices. E essa quase claustrofobia que temos de mesmices acaba nos impedindo de viver certas pequenas simplicidades que, ao fim das contas, são os melhores pedaços da vida. Quer maior clichê do que, sem nenhuma data especial, dizer e ouvir de resposta “eu te amo”?