sexta-feira, julho 08, 2005

O Fracasso da Internet

Após mais de uma década de existência da rede mundial de comunicação via computadores, faz-se necessária a análise de seu desempenho no nosso cotidiano. Vista, em um primeiro momento, como combustível refinado para a velocidade do mundo moderno e como encurtadora de distâncias, a internet mostra hoje, sem pudores, suas facetas mais obscuras. A rapidez para transmitir informações, aproximar culturas, auxiliar na pesquisa e educação parecem não oferecer contra-peso suficiente às mazelas que ela proporciona.


E esse fato não traz surpresa alguma. Todas as tecnologias e descobertas feitas ao longo da história da humanidade tiveram, de uma forma ou de outra, desviadas as suas originais finalidades para a autodestruição. O avião, também encurtador de distâncias, logo foi utilizado como mantenedor do poder pela opressão e ameaça dos mais fortes, sob a égide da defesa de um Estado. O mesmo se deu com a pólvora, a energia elétrica, a energia nuclear. O homem é, de fato, o lobo do homem, como afirmou Thomas Hobbes.


A internet cumpre hoje seu papel na subversão do animal racional, facilitando a ação e troca de informações de organizações criminosas, terroristas e racistas; armazenando sites de pedofilia e de muitos outros tipos de desvios comportamentais; tornando viável a ação de fraudadores em níveis nunca antes supostos possíveis e mais uma série de outras ilicitudes e ações ameaçadoras ao bem-estar social.


Como se isso já não fosse bastante, a rede mundial de computadores tem contribuído ainda no agravamento da individualidade, do egoísmo e da solidão humanas. O homem está abolindo de sua vida certos atos fundamentais ao desenvolvimento de seu caráter, fazendo com que reuniões profissionais e encontros entre amigos tornem-se cada vez mais escassos, já que muitas razões para que estes aconteçam podem ser resolvidas através de um simples e-mail ou sala de bate-papo, poupando, assim, tempo e dedicação. Tempo este que acaba por não ter onde ser empregado, tendo em vista a vacuidade que se torna a vida do indivíduo que evita, o quanto pode, o convívio com seu semelhante. Suprindo de forma parcial e falsa a sua carência, contenta-se em fazer novos amigos sem ter contato físico, em ler um livro sem precisar ir até a livraria para compra-lo, em dizer o que pensa sem precisar expor sua figura ou, até mesmo, criar um personagem para si e, com ele, sub-viver em uma rede de outros personagens tão fictícios quanto o seu.


A internet informa e aliena. Diverte e desanima. É consumida e consome. Aniquiladora do ânimus de aprendizagem de novas culturas, traz tudo pronto em suas páginas e mais páginas com fotos das cidades num “citytour” simulado. Hipnotiza o usuário com sua agilidade e rapidez, roubando o tempo de reflexão e de questionamento. De tanta informação que contém, desinforma e contribui para a preservação da ignorância.


Em uma época em que assistimos ao declínio de um modelo de civilização sem vislumbrar uma solução para conter o caos, em que solidariedade, bom senso e cooperação entre povos estão em vias de extinção, a comunicação por computador tem acelerado esse processo, não contribuindo quase que em nada para freia-lo. Se é, por certo, inegável o avanço e a guinada que a internet deu ao mundo, é, em mesmo grau, indiscutível a degradação que veio com ela.