domingo, junho 11, 2006

Ele tem qualquer coisa que eu não sei definir, que me enche de significação. Qualquer coisa que me invade silenciosa e atordoantemente e me deixa numa paz tão repleta de êxtase e que contagia a tal ponto que já não posso conter o sorriso. E eu escrevo essa declaração, que sei que não enviarei, porque já não sei mais o que fazer com tudo isso que sinto, que penso, tudo isso que acontece em mim tão demoradamente. E ele está ao alcance, bem perto e próximo, e eu não consigo emitir qualquer som ou ensaiar qualquer gesto que denuncie ou insinue esse sentimento que já não cabe mais em mim. E é tão egoísta e covarde eu não saber como agir, qual movimento ou qual palavra usar... Ele deveria saber, sim, tem direito a isso. Afinal, não parece justo eu me valer tanto da imagem dele e penetrar tanto nos seus gestos e palavras, e aprisiona-lo nos meus sonhos e desvarios, sem que disso ele tome conhecimento. Devo pedir permissão para quere-lo tanto e tanto e mais tanto e ainda. Pedir licença, educadamente e com gravidade. Mania essa de ser polida... a mesma mania que me impede de dizer muito do que penso a muitas das gentes que conheço. Demasiadamente civilizada, eu não me atrevo e me entrevo no tanto que deixo por fazer ou por falar ou por acontecer. E é no mínimo chato e triste admitir esse traço ignorante de personalidade. Ignorante, sim, pois completamente apartado de qualquer justificativa lógica e plausível. Não há argumento que dê aval ao fato de eu não ser capaz de dizer a ele tudo isso que é tão essencial e que lateja tanto na minha língua para ser dito. Tudo isso que tomou uma dimensão tamanha que eu estou aqui escrevendo, pra que de alguma forma isso possa chegar a algum lugar, a alguém, pra que de alguma forma não fique tudo engavetado e arquivado, depois de algumas lágrimas de resignação. Então eu escrevo, escrevo que ele é qualquer coisa de tão tão tão indefinível que me enche de significação.