a velhice
Envelhecer
é deixar pouco a pouco
em cada momento
um pedaço de si
é não apanhar pelo caminho
novas peças que poderiam servir
nos vãos deixados pelo o que não mais somos
Envelhecer
é ficar oco
é não ter mais contornos
nuances, entrelinhas
Velhos
ficamos sem subterfúgios
para escapar
sonetinho cretino
A vida corria insana
Nas veias de mais uma semana
A vida corria tardia
Nos desencontros de mais um dia
As horas chegavam tarde
E, sem fazer qualquer alarde,
Se instalavam nos cotidianos
E assim se passou mais um ano
A vida corria maluca
Na mente de quem labuta
Pra comprar arroz, feijão e, se sobrar, uma cuca
As horas ficavam pequenas
Para os sonhos de tantas morenas
Inebriadas pela lua das noites serenas
estações do dia
é noite
e não há refúgio
o silêncio cresce ao passar das horas
é madrugada
e não há saída
o silêncio instalou-se até surgir o clarão do dia
é alvorada
e não há solução
o amor tira-me o sono e a razão
é manhã
e não há conserto
o argumento foi esfacelado pelo primeiro raio de sol
é meio-dia
e não há meio-termo
o retrato delata que não te esqueci
é tarde
e não deveria ser tarde
e não deverias tardar